28 de março de 2009

Poesia


Riso e a Dor

Dizem, que dos músculos do rosto,
Apenas um trabalha, enquanto rimos.
E que para mostrar nosso desgosto,
Trabalham os demais que possuímos.

Talvez quisesse Deus, tendo assim posto
As coisas neste pé, como já vimos,
Que é mais sensato ter do riso, o gosto,
Que o amargo chorar do pessimismo.

Mas, se esqueceu do “calcanhar de Aquiles”:
Deu-nos um fígado, produzindo bílis
E quase nada provocando o riso.

Pois melhor seria à mim e à toda gente,
Viver por aí, rindo, contente,
E que chorar, jamais fosse preciso!



“ O Trem da Vida”
“Venha! ( dizias ) o tempo esta passando
e. se demoras muito, o trem da vida,
Em sua louca e rápida corrida,
Passa por nós e nós vamos ficando”.

E eu ai, sempre e sempre protelando,
Aquela viagem de amor, tão prometida
E a ânsia de amar, sempre aumentando
E a concretização, nunca cumprida.

Por que será que a gente, ás vezes, fica
Nessa indecisão tola e pudica
E o trem não pega, p’ra  viagem louca,

Mesmo sabendo que o Trem da Vida,
Não se deve perder uma partida,
Nem o beijo deixar para outra boca!
  

RECORDAR
Beijar uma despetalada rosa
Que alguém beijou e que depois nos deu,
Sentir nossa alma soluçar queixosa
Por esse alguém que já nos esqueceu,
                                            É recordar.

Reler uma carta simples e amorosa
Que certa vez alguém nos escreveu,
Sentir depois, a deslizar medrosa,
Á lágrima que nosso olhar verteu,
                                         É recordar.

Enfim, rever um simples objeto
È recordar; sentir o olhar discreto
De uma saudade dolorosa e infinda

Mas, querer olvidar a quem amamos
E por quem tantas vezes já choramos,
É mais que recordar, é amar ainda.


O Nosso Amor

O nosso amor, Amor, é como o vinho,
Que mais envelhecido, mais se apura
No seu aroma e gosto; é como o linho,
Que o uso e o tempo alveja a contextura.

Tem, hoje, nosso amor essa doçura
Do vinho velho e a maciez do arminho...
É um descansado amor, amor ternura,
Amor para se amar devagarinho...

É nosso amor, assim, como se fosse
Olente fruto, amadurado e doce,
Que se guardou para comer depois...

Safra bendita que nós dois cuidamos,
Da árvore dos sonhos que sonhamos
E cuja sombra há de cobri nós dois.


Remember

No compasso do tempo, lento e certo,
Lentos e certos os dias vão passando,
Como nas folhas de um livro aberto,
Nossos sonhos de moços, vão ficando...

Remember... De um nome a outro recordando...
Nós caminhamos já com passo incerto,
Outros nomes e amores procurando,
Do passado longínquo, trazer perto...

Carmem, Mercedes, Conceição, Alice,
As três Marias, Maura, Berenice,
Grandes romances tive eu com elas!...

Mocidade feliz, longe perdida,
Anos que foram, para mim, na vida,
Um relicário de mulheres belas.


Do livro – O Poeta e a Poesia
Autor: José Lázaro Henriques